sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Polícia à beira da falência


fontes das imagens: internet/montagem: Israel Coutinho

Carlos Alberto Marchi de Queiroz*

O Correio Popular, edição de 9 de janeiro, A2, na  seção Há 50 anos, publicou curiosa nota.
Sob o lead POLÍCIA DE CAMPINAS À BEIRA DA FALÊNCIA, o jornal, no longínquo  9 de janeiro de 1965, denunciava: ”Nunca tivemos a ventura de possuir uma boa polícia. Ressalvando-se um breve período, lá pelos idos de 1935 e 36, quando era Chefe de Polícia o campineiro Arthur Leite de Barros, em nenhuma época pudemos contar com uma polícia eficiente. Até parece que os responsáveis pelos destinos deste Estado nunca tomaram conhecimento de Campinas”.
O editor arremata ,corajosamente, comparando:” Em algumas cidades do Interior, sem a importância de Campinas, dá gosto de observar a organização e os recursos de que dispõem. A delegacia de Piracicaba, por exemplo, possui  instalações limpas e adequadas, contando com pessoal em número mais ou menos suficiente e magnífica frota de viaturas em bom estado. Naquela cidade os carros da polícia rondam de dia e de noite”.
Meio século depois, é imperioso formular uma pergunta que não quer calar: A polícia de Campinas ainda está à beira da falência ou comporta recuperação?
É preciso esclarecer, antes de entrarmos no âmago da questão, que aqueles comentários diziam respeito à Polícia Civil,  conhecida como Polícia do Estado ou, simplesmente, Polícia que se identificava pelas cores branca e preta das viaturas, chamadas  de “pinguins”. Suas únicas instalações ficavam no prédio, ainda existente, construído por Ramos de Azevedo, no quarteirão da Avenida Andrade Neves.
A Polícia Militar não existia. Os serviços de policiamento ostensivo eram realizados pela Força Pública, cujo quartel, o 8º Batalhão de Caçadores, ficava na Avenida João Jorge, e pela Guarda Civil, extintas em 1970, pela ditadura militar.
Passados 50 anos, o panorama mudou radicalmente. A Delegacia Regional de Polícia transformou-se no Deinter 2, com 5 delegacias seccionais, distritos e delegacias especializadas. A Delegacia Regional de Polícia de Piracicaba, atual Deinter 9, tem idêntica capilaridade embutida em 6 seccionais.
A população da RMC, servida por ambos departamentos, quintuplicou no período. A criminalidade, também, como demonstram estatísticas fornecidas, periodicamente, pela Secretaria  de Segurança Pública, através do Diário Oficial.
Em 1965, Campinas acabava de ser aterrorizada pelo “Bandido Mascarado”. Entre 1961 e 1963, o marginal matava jovens, poupando as acompanhantes, libertando-as, ilesas, após dar-lhes um pito por namorarem em lugares ermos... acontecimentos que, hoje, seriam sepultados pela onda de criminalidade.
Desde então a Polícia mudou. Os governos Carvalho Pinto e Orestes Quércia investiram maciçamente em engenharia civil, construindo delegacias e distritos. Quércia elevou para 101 o número de distritos da Capital que somavam 51. Apesar disso, 1/3 das unidades policiais civis funcionam em imóveis alugados.
Viaturas e helicópteros, submetidos a intenso desgaste, são constantemente renovados, impressionando os eleitores.
A imprensa de Campinas e do Estado, nestes 10 lustros, tem fiscalizado, rigorosamente, as atividades da Secretaria de Segurança Pública, em seus aspectos ostensivos, preventivos e administrativos, dos seus braços armados, a PM e a Polícia Civil.
Em razão dessa transparência, que se contrapõe às mentiras veiculadas pelos políticos, sabe-se que a Polícia Civil, desde 1996, conta com um quadro de 44.400 cargos dos quais, atualmente, 31.500 estão ocupados e os restantes vagos, em decorrência de aposentadorias, mortes em serviço e pedidos de exoneração em razão de baixos salários. Diretores de polícia, membros do Conselho, reconhecem, em entrevistas, o déficit de pessoal que atormenta a instituição, cuja Academia de Polícia não conta com estrutura, muito menos professores, para formar 12.800 novos policiais, cujos salários afastam candidatos.
A Polícia Civil precisa de um Departamento de Planejamento, exclusivo, a fim de enfrentar os desafios do século 21. Precisa aumentar efetivos defasados em relação à atual densidade demográfica. Precisa colocar alunos da Academia para trabalhar durante meio período enquanto cursam, à semelhança do que ocorre na França. Oficiais administrativos, não policiais, bem remunerados, precisam ser contratados, liberando policiais civis que, hoje, realizam tarefas logísticas.
É obrigatório reconhecer que não existe uma fórmula simples para administrar uma empresa do porte da Secretaria de Segurança Pública e de suas afiliadas, como a Polícia Civil de Campinas. Nesse sentido, o Deinter 2  tem problemas parecidos àqueles enfrentados por todos os departamentos subordinados à Delegacia Geral de Polícia.
 A Polícia Civil de Campinas, 50 anos depois, não faliu. Precisa de forte recuperação em termos de recursos materiais e humanos, para voltar aos anos de 1935 e 1936. Para tanto, depende da argúcia do secretário e do delegado geral.

*Carlos Alberto Marchi de Queiroz é professor da Academia de Policia

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